segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Peatonal Cordobesa

Estava vendo uns vídeos no Youtube e me deu vontade de fazer uma seção nostalgia. Tive a ideia de colocar umas fotos que tirei dos músicos de rua de Córdoba e falar um pouco da história de cada uma. Como essa ao lado.

Então senta, que lá vem a história: O casal de músicos, escondidinho atrás na foto, ganha a vida cantando nas ruas de Córdoba há vários anos. Eles são muito conhecidos por lá. Também cantam em casamentos, batizados, fazem shows no interior e o que mais pintar. Eles só tocavam na rua durante o dia. Peguei o cartão deles e, à noite, quando cheguei em casa, liguei para lhes fazer uma proposta.  Se não me engano, eles se chamam Ivan y Sol, mas não me lembro mais direito pra falar a verdade. Pois, pra minha surpresa, acharam que era trote, provavelmente por causa do meu sotaque, e desligaram.

No dia seguinte, esperei uma manhã inteira até a apresentação deles na peatonal acabar e me aproximei com muito jeito. Enquanto isso fui tirando umas fotos, como a dessas ciganas aí ao lado. Elas estavam procurando a mãe que apareceu, de repende, bem na hora da foto me olhando desse jeito.

Quando, finalmente, eu consegui falar com os músicos, fiz a proposta. Eu me ofereci para tocar flauta com eles, dizendo que estava ali pra isso, pois tinha conseguido uma bolsa etc. e tal. Mas, para minha surpresa, o cara ficou bastante furioso e zangado com minha proposta. Quase me xingou. Talvez tenha até me xingado, mas eu não entendi. Ele dizia de maneira bem rude, quase no limite de uma ofensa ou discussão, a cada argumentação minha: "Não. Nós estamos bem assim." Ou: "Já tocamos há muito tempo desse jeito, só nós dois. Não precisamos de mais ninguém. Tá muito bem assim, etc.e tal."

A princípio, não entendi o porquê daquela reação. Depois, fiquei pensando que ele poderia ter achado que eu queria ganhar dinheiro com a "fama" deles. O problema é que eu não queria um tostão deles. Iria tocar completamente de graça. O que eu queria mesmo era só tocar. De verdade. Ter a experiência de tocar algumas músicas e pronto. Já era bastante pra mim. Eu gostei deles era porque as pessoas pareciam se emocionar muito ao ouví-los, se abraçavam, batiam palmas, o que é muito raro para músicos de rua. Esperava que fossem mais abertos. Esperava que gostassem. Que ao menos me pedissem maiores detalhes, verificassem o que eu poderia oferecer, enfim, que dessem um pouco de atenção ao menos.

Mas, pensando bem depois, deu pra entender sim sua reação tão ríspida. Não deve ser nada fácil ganhar a vida para poder pagar as contas daquela maneira.  Até hoje o músico ainda é visto como uma sub-profissão, coisa de gente que gosta de levar vida fácil.  Digamos também que o deus mercado é muito concorrido. E o mercado era ao ar livre. Tudo isto, talvez, tenha o levado a ser armar daquela forma.

Bem, a música abaixo (Resistiré) e uma outra, que evoca o comandante Che Guevara (Hasta Siempre Comandante), são estrategicamente tocadas pelos personagens da foto acima, especialmente quando o movimento fica fraco e as moedinhas começam a minguar. O áudio não está lá muito bom, mas dá pra ter uma noção.

Resistiré é do Duo Dinâmico, de Barcelona.
Cuando pierda todas las partidas / Cuando duerma con la soledad
Cuando se me cierren las salidas / Y la noche no me deje en paz
Cuando sienta miedo del silencio / Cuando cueste mantenerse en pie
Cuando se rebelen los recuerdos / Y me pongan contra la pared

Resistiré erguido frente a todo / me volveré de hierro
para endurecer la piel / y aunque los vientos de la vida soplen fuerte
como el junco que se dobla / pero siempre sigue en pie.
Resistiré para seguir viviendo / soportaré
los golpes y jamás me rendiré / y aunque los sueños se me rompan en pedazos
resistiré, resistiré.

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