A crônica abaixo, muito boa, é de autoria de Luiz Antônio Simas. Eu acho que a identificação da torcida do Galo com jogadores como Obina e Dadá Maravilha não é do nada. Me lembro, por exemplo, das frases do Vicente Mateus no Corinthians e de como isso tem se perdido no futebol "muderno" de Felipões e Luxações. Nos últimos tempos, a torcida do Galo além de mais envelhecida tem ficado muito mais agressiva, vem perdendo a leveza e graça que só as torcidas vencedoras podem desenvolver. Vale a pena ler.
A história mais impressionante que conheço envolvendo um juiz de futebol no Brasil é, sem dúvidas, a da briga entre Mário Vianna com dois enes e toda a torcida do Flamengo em um jogo entre o urubu e o Botafogo em General Severiano.
Sou fã declarado e juramentado de Mário Vianna, mas admito que há um outro juiz que merece também um lugar de destaque entre os mitos do apito canarinho, ainda que de uma forma oposta a do imparcial e valente Mário Vianna: Alcebíades de Magalhães Dias, o Cidinho Bola Nossa.
- Nunca fui desonesto. Acontece que sou passional e não consigo ver a massa sofrendo. Jamais traí o povo.
Abraços,
Sou fã declarado e juramentado de Mário Vianna, mas admito que há um outro juiz que merece também um lugar de destaque entre os mitos do apito canarinho, ainda que de uma forma oposta a do imparcial e valente Mário Vianna: Alcebíades de Magalhães Dias, o Cidinho Bola Nossa.
Cidinho, para quem não sabe, foi um juiz de Minas Gerais que só soube fazer uma coisa na vida melhor que apitar; torcer para o Atlético Mineiro. Como as duas coisas são aparentemente incompatíveis, ser juiz e torcer de forma absolutamente escancarada por um time, Cidinho aprontou coisas do arco da velha nas quatro linhas - e tudo em nome da paixão.
A história mais famosa de Sua Senhoria aconteceu durante um jogo entre o Galo e o Botafogo, em 1949. A bola saiu pela lateral e houve uma indefinição sobre a quem pertenceria a redonda. O beque do Atlético, Afonso, estava discutindo com um jogador do Glorioso, Santo Cristo, para saber quem bateria o lateral. Resolveram consultar o árbitro. Cidinho respondeu com voz de comício:
- Bola nossa! É nossa, Afonso, é bola nossa.
Passou a ser conhecido como Cidinho Bola Nossa e adorou a deferência.
Em outra ocasião jogavam os extintos Sete de Setembro e Asas. Como o Atlético Mineiro enfrentaria três dias depois o vencedor do prélio, Cidinho encontrou uma ótima maneira de cansar o futuro adversário do Galo: Deu três horas e dez minutos de bola rolando. Isso mesmo, Bola Nossa deu inacreditáveis 100 minutos de acréscimos , recorde mundial - e pra todo sempre imbatível - em uma partida de futebol.
O próprio Cidinho, aliás, gostava de relatar como foi sua estréia no apito - com o objetivo admitido de ser parcial. Jogavam, em 1945, Atlético Mineiro e América. Jogo decisivo para o certame. Aos quarenta segundos do primeiro tempo, em uma falta simples, Cidinho expulsou Fernandinho, ponteiro do América. Foi aplaudido pela torcida do Galo e declarou se sentir realizado.
Cidinho saiu corrido de estádios e quase morreu dezenas de vezes. Ameaças de linchamento foram pelo menos umas quinze. Em uma delas, em um jogo do Atlético contra o Metalusina, em Barão de Cocais, marcou um pênalti aos quarenta e um do segundo tempo para o Galo em uma falta ocorrida na intermediária, uns dez metros antes da meia lua.
No que o jogador do Atlético caiu, Cidinho deu a clássica corrida apontando a marca do pênalti, com tremenda autoridade e pose de vestal. Cercado pelos jogadores do Metalusina, declarou apenas: - Penalidade máxima. Pênalti claro, a falta foi pelo menos meio metro dentro da área. Quem reclamar vai pro chuveiro mais cedo. Mais uma vez ameaçado de morte, ficou quase três horas protegido pela polícia no meio de campo e só conseguiu sair da cidade vestido de cigana, com argolas nas orelhas, leque, saia rodada e o escambau. Em duas outras ocasiões foi salvo da morte pelo Corpo de Bombeiros.
Cidinho Bola Nossa morreu com noventa e tantos anos. Confessou, já quase cantando pra subir, uma única e grande frustração em sua vida: Achava que merecia um busto na sede do Atlético Mineiro, por serviços prestados ao clube. Legou ao futebol pelo menos uma sentença exemplar:
- Nunca fui desonesto. Acontece que sou passional e não consigo ver a massa sofrendo. Jamais traí o povo.
Abraços,
2 comentários:
Texto muito bom, devidamente compartilhado por mim. Foda!
enfim, futebol & política, zé simão disse que a semelhança do atlético mineiro com o candidato a presidente josé serra é que os dois perdem três pontos toda vez que aparecem na TV
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