
Um dos maiores entusiastas deste obscuro projeto é o atual reitor da UFMG, Clélio Campolina. Clélio Campolina foi escolhido como o primeiro presidente da comissão de implantação da BH-Tec sem nenhuma consulta à comunidade universitária. Um grupo de iluminados simplesmente decidiu numa sala o destino daquela área e a população da cidade está condenada, então, a assistir passiva a entrega de uma área pública para usofruto de empresários. Empresários que não se cansam de reclamar do estado e do alto custo dos impostos, mas que contam com generoso financiamento do BNDES para lá se instalarem. Nada mais natural no reino do Brasil, muitos diriam.

Entre algumas medidas do atual reitorado tucano da UFMG encontram-se: a diminuição do bônus social no vestibular (sim, você não leu errado); a perseguição a grupos políticos de alunos e funcionários, a implantação seletiva do ponto eletrônico; a completa recusa em dialogar com a comunidade universitária em questões de relevante interesse social, como a implantação da EBSERH; a invasão do campus pela polícia no caso IGC (coisa que nem na ditadura aconteceu) e dezenas e cotidianas pequenas tomadas de decisões arbitrárias que fazem apenas reafirmar o espaço corenalesco em que alguns professores universitários da reitoria tem transformado parte da UFMG e outras instituições públicas de ensino. Com isso, o debate de ideias, que sempre embasou o motivo de ser e no qual se definiu o próprio espírito de vida universitária vão sendo, pouco a pouco, excluídos do cotidiano estudantil.
O pior é que isto vem sendo acompanhado de algo ainda mais temerário que é a substituição do enfrentamento de ideias pela verdade travestida em argumentos jurídicos, do tipo: "o reitor não é obrigado por lei a ouvir ninguém" ou "o reitor/prefeito/governador tem poder, pela lei, para fazer isso e aquilo"; ou em síntese: "a lei determina". A lei. Eis o perigo. Sempre ela, diria Kafka ou Freud, a justificar nas mais convenientes situações algumas bem selecionadas ações. A pior lei é a lei conveniente.
A pergunta que fica é: o reitor da UFMG, Clélio Campolina, cuja meta principal atual parece ser a implantação do ponto eletrônico apenas para os funcionários (e ele jura que só cumpre a lei), irá prestar algum esclarecimento à sociedade sobre a entrega da área, seus custos e o retorno que trará para a sociedade? De que forma foram tomadas estas decisões? Quais os cargos e os salários dos membros da equipe? Quanto já foi gasto na implantação? Qual a participação, em valores, da Fundep? O que a UFMG e a sociedade ganham com tal doação não poderia ser conseguido de outra forma, mantendo-se o patrimônio e a área verde?
Parece-me, mas só parece, que a lei existe para responder algumas destas perguntas também, não? Ou estou enganado?